quarta-feira, 29 de abril de 2009

porque o futebol é muito mais do que um jogo!!

Atentemos ao que nos diz Luís Freitas Lobo (para mim, mais do que um simples comentador):

"Construir a forma de jogar de uma equipa é o que, mais do que nunca, distingue diferentes categorias de treinadores. Todas as boas ideias têm a força dos princípios. Saber como dar-lhes vida em diferentes contextos é, fundamentalmente, uma questão de entender que, no futebol, nada funciona através de um simples transplante metodológico. Só entendendo o princípio da especificidade um treinador consegue interpretar correctamente a maleabilidade do modelo de jogo.
Por isso, entendo que o modelo de jogo, a ideologia futebolística do treinador, nunca deve ser negociável. O que tem de ser flexibilizado (negociado) em função das circunstâncias, é a periodização da construção desse modelo de jogo. São coisas diferentes. Deve-se como que modelar o modelo às diferentes realidades. Isto é, hierarquizar a transmissão/aquisição de princípios em função das necessidades e capacidades da equipa, até ela atingir a mesma ideologia de jogo (embora obrigatoriamente com expressão técnico-individual qualitativa diferente) que precede esta avaliação concreta.
Ou seja, pode-se querer uma equipa a jogar mais em posse, alargando o jogo na organização ofensiva, mas se pela avaliação da qualidade/disponibilidade táctico-técnica do plantel percebermos que ela irá passar a maior parte do tempo sem bola e na organização defensiva, então a prioridade no treino dos momentos do jogo e sua transmissão de princípios deve ser outra. Privilegiar então o momento de organização defensiva (sem posse, ocupar espaços, trabalhar a recuperação e intercepção de linhas de passe) aprendendo a fazer circular a bola por trás no meio-campo defensivo, algo que é indispensável uma equipa dita mais pequena saber fazer para ganhar confiança e personalidade (como grupo e nos jogos, especificamente).
Não é obrigatório que só por ver como as características da equipa não favorecerem uma cultura de posse (indo assim passar a maior parte do jogo sem bola) que o treinador deva optar logo por um jogo mais directo, abdicando do que seria o seu modelo, afinal as ideias de jogo que considera a melhor forma de jogar bom futebol. Portanto, a periodização da transmissão/aquisição de conhecimentos tácticos (princípios de jogo) é que é negociável. Por isso, o modelar-se do modelo. Porque o bom futebol, como cada jogador ou equipa (suas características e necessidades) são especificas.
O segredo passa por descobrir qual a melhor forma de hierarquizar a transmissão dos princípios e sub-principios de maneira a que eles sejam o melhor possível incorporados pela equipa. É um caminho difícil, sem dúvida. Mas é o único que faz sentido em termos de identidade futebolística. Uma identidade global aplicada com especificidade. Nada disto tem a ver com sistema(s). Tem a ver com filosofia(s).
Nada disto implica que o modelo seja um dogma. É um livro aberto às diferentes realidades que vai encontrando na vida (de equipa para equipa). A sua aplicação/construção é que tem de ser contextualizada/hierarquizada."


Porque o que é complexo é sempre um desafio....e uma paixão!!